PAL+







Podcast 005






 Entrevista com PAL+



Olá Fernando, desde já, um muito obrigado por aceitares este convite. Para começar, diz-nos o porquê de escolheres PAL+ como nome artístico.

-Olá Henrique! Obrigado pelo teu convite, iniciativas destas são sempre bem vindas!
Em termos técnicos, PALplus é uma extensão do sistema de transmissão analógica de programas em formato 16:9 sem deteriorar a imagem na resolução vertical. Adoptei esse nome enquanto produtor, em meados de 2001, pois achei que se enquadrava no estilo de música que fazia. Sempre foi um objectivo meu transmitir imagens mentais através da música e que esta pudesse proporcionar ao ouvinte uma  "viagem" para diferentes locais e contextos emocionais.

Que artistas influenciaram e influenciam o teu processo criativo?

- Não foram assim tantos... Mas os mais emblemáticos para mim e que me despertaram o interesse na música electrónica, foram sem dúvida os Chemical Brothers. Estávamos em 1998 e a minha vida nunca mais foi a mesma quando ouvi o "Dig your own hole". Aquilo bateu-me mesmo muito forte, quase como um murro no estômago! Tenho algum carinho por essa altura, quando o big beat era algo fresco e inspirador. Reconheço que apanhei o comboio um pouco tarde, e só aos 16 anos é que começei a prestar a devida atenção à música. Não tive pais músicos (com vastas colecções de discos) nem aulas de piano aos 6 anos!
Kraftwerk, Mouse on Mars, To Rococo Rot e todo o Kraut-Rock mais orgânico dos anos 70 foram uma grande referência para o que fiz nos anos seguintes entre 2002-2005. Os artistas do catálogo da  Warp e da Ninja Tune também foram uma grande inspiração nessa altura.
Actualmente não tenho assim grandes referências musicais, mas gosto muito do que a Ghostly continua a lançar. A Future Times também foi uma agradável surpresa para mim, gosto muito de Beautiful Swimmers enquanto dj´s e produtores. Continuo a ouvir muitas cenas italianas e russas de música electrónica exótica e Disco dos anos 70 e 80.

Que “máquinas” utilizas para produzir?
Estás rendido ao mundo digital ou os instrumentos analógicos ainda fazem parte das tuas opções?
 
 - Eu gosto muito dos dois mundos porque eles complementam-se mutuamente. É impensável para mim usar sintetizadores analógicos / digitais sem ter uma DAW onde posso fazer a edição do que gravo. Actualmente uso o Roland SH101, Yamaha CS15D, Roland JX8P, Korg Polysix e Poly 800. A minha DAW continua a ser o Ableton Live. É prático, simples e intuitivo.
Mais do que as ferramentas, a criatividade é o ponto fulcral em qualquer criador. O famoso debate entre o digital e o analógico já passou à história. O que interessa é o que fazes com aquilo que tens, não é necessário teres o último equipamento high-end para te expressares musicalmente. Podes até fazer música com os objectos que te rodeiam!

The Forest, foi o teu primeiro EP, podemos esperar um próximo em breve?

- Ando a trabalhar em material novo com a ideia de um EP ou talvez um álbum para o próximo ano. Penso que irá revolucionar tudo o que fiz até agora! Até agora estou bastante satisfeito com os resultados. É sempre um desafio tentar quebrar barreiras e experimentar novos caminhos enquanto produtor.
No dia 17 de Dezembro irá estar dísponivel na web a primeira compilação digital da One Eyed Jacks. Está lá um tema meu "The Hentai Cut". Esta compilação tem um rooster incrível de artistas com muito talento: Photonz,Violet, Roundhouse Kick, Galaxian, Kruton, entre outros.


Vivendo tu no Algarve, como olhas para o panorama cultural dessa ponta do país?

- A minha visão é mais a de outsider, pois o panorama cultural aqui no Algarve está muito segmentado no mainstream. Falta vanguardismo e vontade de fazer algo diferente num contexto mais contemporâneo. Quando vim morar para Faro, ainda existiam algumas bandas que tocavam ao vivo numa vertente mais roqueira e influenciada pela cena Punk - Hardcore, mas tudo isso desapareceu. Faz-se algum Pop-Rock em Faro mas é muito desinteressante e antiquado na minha modesta opinião.
Fiz os meu primeiros live-acts e dj sets no saudoso bar Ovelha Negra e mais tarde no Nordik. Estes espaços ofereciam algo diferente e inovador a nível musical, mas sempre para uma minoria de pessoas que frequentava esses espaços.
O Festival Mau, o único evento mais virado para o experimentalismo e cenas mais cutting edge também já não existe...
Contudo, existem algumas pessoas a lutar contra esta corrente gasta e balofa do panorama musical algarvio. Eles têm paixão naquilo que fazem enquanto produtores ,dj´s e organizadores de eventos: Xminder, Renato, Taxman, Roundhouse Kick, Vasco Fortes, os membros da associação LATA e João Álvaro são pessoas que eu admiro imenso pelo seu trabalho e apesar de serem meus amigos, reconheço que têm muito talento e mereciam mais reconhecimento aqui no Algarve.
Pessoalmente não sinto que faça parte da corrente musical na cidade onde vivo e sinceramente também não tenho muita vontade que tal aconteça. Já dei o meu contributo musical a esta cidade há uns bons anos atrás e tenho boas recordações dessa altura. O reconhecimento e apoio ao que actualmente faço tem vindo de Lisboa, Porto e também do estrangeiro. O meu último EP teve críticas muito positivas por artistas internacionais já consagrados, o que me deixou com muita vontade de continuar a fazer o que gosto.

Qual o trabalho ou trabalhos que te têm impressionado nos últimos tempos?

Confesso que não ando muito ao corrente do que se tem feito últimamente, mas o álbum "Movement" da Holly Herndon deixou-me com bastante curiosidade em investigar a sua sonoridade. Gosto também muito do trabalho de Stellar Om Source, Polysick, Datassete,Com Truise e Brassica. Continuo a acompanhar algumas cenas de Detroit feitas actualmente, assim como os devaneios mais retro analógicos de alguns artistas Indie.

Que artistas portugueses mais segues?

Portugal tem imensos artistas com talento em diversos ramos musicais e não estamos nada atrás do que se faz no estrangeiro. Temos de continuar a acreditar que o nosso legado musical é bem vincado e único e não estou só a falar do Fado! O panorama Pop-Rock dos anos 80 é tão rico e singular, foi realmente a idade de ouro da indústria musical portuguesa! Nada de nostalgia com vontade de voltar atrás, pois tudo tem o seu tempo num contexto sócio-cultural, mas o que actualmente se faz nessa vertente não é tão rico e sincero como outrora...
Gosto do trabalho do Paulo Zé Pimenta, Stereoboy, Rafael Toral, Nuno Rebelo, a dupla Marco Rodrigues e Miguel Evaristo (Photonz), Stealing Orchestra, os saudosos Two Kinderman (António Contador e Nuno Antunes), Sensible Soccers, Mirror People, a lista é infindável.