Quantic Spectroscopy

Quantic Spectroscopy



Eles são do Porto e produzem Techno. Fundadores da Reaktivate e amantes do Techno mais cru, concederam-nos uma entrevista no mínimo interessante, no máximo uma maneira de analisar a descriminação que se sente em relação ao Techno, ao verdadeiro Techno. Uma entrevista muito rica, pois vem do pessoal underground que ainda faz as coisas por gosto e não pelo dinheiro.

 
 
Como surgiu este projecto?

Quantic Spectroscopy é um projecto iniciado no fim de 2010 pelo Gustavo Lima e o Ivo Polónia. Surge de uma grande vontade de fazer Techno diferente, explorar os novos caminhos que se abriram com a evolução da música. Ao mesmo tempo podemos dizer que é o nosso projecto mais maduro pois no passado tivemos o projecto Mossad Electronics (DJing) e o projecto Dope Kids (http://www.beatport.com/artist/dope-kids/80786 ) que era exclusivo de produção. Neste projecto pretendemos explorar a sonoridade Techno actual, que não tem que ser dancefloor mas sim som construído com os princípios deste e de certa forma faz lembrar sons IDM, Dub, Banda Sonora. E basicamente tudo começou pois as nossas origens são o Techno de 94 a 2004/05! Decidimos então começar a produzir Techno ao nosso estilo sem catalogar de Dub, Dark, Industrial ou o que seja. Fazer o som que vai nas nossas mentes e que sentimos no momento é o som ideal para acompanhar o nosso dia-a-dia.

Quais as vossas influências?
As nossas influências... Isso é uma boa pergunta! Temos algumas influências ligadas à música electrónica mas porém outras vem de outros “locais”. No Techno podemos dizer que sem dúvida nomes como Jeff Mills, Joey Beltram, Dave Clarke, Chris Liebing, Ben Sims, Surgeon, Regis, Ancient Methods, Developer, Ben Long... Crescemos a ouvir estes nomes, sempre sonhamos um dia partilhar cabines, conversas com estes senhores e acho que foi isso que nos levou em grande parte a conquistar esse sonho! Outro género de música que nos influencia bastante é o Dub / Electronica onde maior parte do som é experimental e isso faz-nos pensar um bocado mais como inovar e experimentar mais nos nossos sons. Actualmente há grandes artistas que também nos contagiam com os seus sons como Silent Servant, Xhin, Lucy, Perc, Sawf, etc... e editoras como a Token, Prologue, Mote Evolver, Subsist, M_Rec, Blackest Ever Black, Stroboscopic, Labrynth entre outras que exploram muito as novas sonoridades.

Qual a vossa opinião sobre a cultura techno em Portugal?
 
A velha pergunta... O Techno em Portugal no meu ponto de vista está muito subdesenvolvido. Não há uma grande aposta nos verdadeiros artistas que fazem o Techno ser o que é. É considerado demasiado underground logo como não dá lucro a quem organiza festas mais vale a pena ficarem no sítio deles e trazem os mesmos de sempre. Já muitas vezes pensamos se o problema seria nosso a nível de gostos musicais, mas creio que não, pois a verdade é que basta analisar países próximos como França, Itália, e sem falar na Alemanha claro, para vermos que as tendências musicais Techno não tem nada a ver com o que aqui se chama de Techno. Há pouco por cá, temos de agradecer ao Clube Gare porque de vez em quando ainda traz nomes interessantes, mas tirando isso penso que não há cultura Techno em Portugal, e a que há é muito fraca. As pessoas comem com o que lhes dão e se catalogarem de Techno, Electro, Tech House elas acreditam piamente nisso. O Techno actual não é feito dos nomes grandes como Adam Beyer, Richie Hawtin e entre outros (a maior parte destes já nem Techno toca), mas sim por produtores que andam aí há anos e agora deram o salto ou por pessoal que quer inovar, mostrar a sua marca e a diferença no Techno mundial. Penso que deveria haver uma maior aposta nessa área pois só assim se pode educar os “alunos”. 

Em Portugal qual o artista que mais gostas?
O artista português que mais me influência e gosto será o grande David Henriques mais conhecido por Delko. Sem dúvida alguma é o melhor produtor português da actualidade e ainda para mais encontra-se em grandes editoras como a Synewave do Damon Wild, Ketra do Logotech e Mark Morris entre outras que estão para vir! O Delko é de Rio Maior e produz no seu estilo muito próprio, muito industrial.


Fala-nos um pouco da Reaktivate.

A Reaktivate é o nosso novo projecto. É uma editora nacional de música Techno. Apostamos em sonoridades novas, diferentes e mais uma vez não catalogamos o tipo de música. Apenas é Techno novo, actual. Procuramos servir o melhor que se faz na música. Iremos lançar o primeiro EP em Maio nas maiores lojas de música electrónica digitais e para o ano contamos em lançar em vinyl se tudo correr bem. A nossa label já conta com o apoio de grandes artistas como Mattias Fridell, Ryuji Takeuchi, Speedy J, Chris Liebing entre outros! Acreditamos que este projecto tem pernas para andar e vai ajudar a divulgar artistas nacionais de Techno e internacionais de renome. Podem ver mais informações no Facebook e Soundcloud! 

Acreditais num futuro próspero no que toca á música de dança em Portugal?
 
Um dia acredito que sim, mas está longe por enquanto. As coisas melhoraram de há uns anos para cá, mas ainda há muito para fazer por aqui. Já há alguns clubes e bares que começam a apostar em ondas mais underground e que percebem que o Techno não é associado ao que se fazia em 2000, 2001 em Portugal. As vertentes mais Dub, Dark são óptimos estilos de música para um bar e devem ser apreciadas como música e não só música de dança. É preciso educar, informar mais quem gosta de electrónica pois é um caminho agradável de percorrer e descobre-se coisas fantásticas. Esperemos que um dia Portugal tenha boa fama por acolher bons estilos músicas como Berlin, Marselha, Roma, Bolonha, Madrid, Londres... 



O porto é a segunda maior cidade deste país, achais que a grandeza geográfica condiz com a grandeza cultural!Porque?
Sim, o Porto muito honestamente a nível de música electrónica está 10 vezes acima de Lisboa. Mais nenhuma cidade neste país aposta tanto em noites diferentes, artistas de renome e tem uma noite tão boa como aqui. Há muito talento no Porto é preciso apostar nele e dar lugar a artistas que tem tudo para ter uma óptima carreira. Acho que neste momento o Porto precisa é de ainda mais nomes nacionais a mostrar o seu talento. Tem de haver mais união entre o pessoal que já tem a sua vida feita e os que estão a tentar lá chegar. Claro que cada um deve proteger os seus interesses mas a união faz a força e se for possível juntar mais talento melhores coisas surgiram. Vejo que muitos amigos de outros pontos do país gostariam de ter um Gare nas cidades deles com grandes nomes e isso é bom, mostrar como estamos no sítio certo.