John-e







                                         



John-e é um dos elementos dos Stereo Addiction, um dos impulsionadores do House Progressivo no nosso país, e uma pessoa com grande conhecimento do que se passa dentro e fora de portas.

Concedeu-nos uma entrevista, onde fala um pouco sobre a sua história como artista, e nos dá a sua visão sobre o panorama nacional. É um belo exemplo para muita gente que quer seguir uma carreira profissional.

Começas-te a tocar do outro lado do mundo, no que toca ao ambiente e á maneira
como se vive a musica de dança, quais as diferenças que encontras-te no nosso país?

Sim, comecei em Macau por ir a festas com 15 anos e dançar o que era oferecido em Honk Kong, na altura sob regência Inglesa. Tive a oportunidade de crescer no “boom” da club culture Inglesa, a ouvir regularmente djs como, Nicky Holloway, Lee Burridge, 808 State, Masters at Work, CJ Makintosh, Deep Dish, Laurenth Garnier, e toda a vaga dos djs de progressive de 94 a 96 como Sasha, Digweed, Paul Oaekendfold, Nick Warren entre muitos outros. Em 95 já tinha começado a tocar e organizar eventos para os poucos que éramos em Macau, nesta altura influenciado por uma panóplia de estilos, em 97 mudei-me para Londres onde também continuei a seguir a “club culture” Inglesa, em vários outros estilos que nunca tinha ouvido em Macau ou Honk Kong, desta vez estava no coração do movimento e foi muito forte. Cheguei a tocar em vários clubes mais “underground” como o 414 em Brixton e alguns after míticos, a festa estava-me no sangue mas nunca esperava ter o choque cultural que tive…

Ao chegar a Portugal em 2001, foi uma chapada de realidade, pois só encontrei 2 vertentes, o tribal ibérico que tocava por todos os clubes por onde se passava (lux sempre foi alternativa) ou as festas de trance psicadélico, onde me fiz ouvir, ainda entreguei cassetes numa loja do bairro que não vou mencionar, e a resposta foi que já havia muitos djs em Portugal!...enfim, peguei na cassete e voltei para casa, outra história fixe foi noutra loja de vinyl no bairro (que também não vou mencionar o nome) lembro-me que foi o primeiro contacto com uma loja e sempre achei importante contactar com os djs locais tal como fiz em HK e Londres, e pediram-me para ouvir um vinyl da Phantasm que tinha na minha “case” eu dei o disco e ele perguntou me logo se podia gravar para mp3 (equipamento mais usado pela maioria dos djs de trance na altura, para quem não tinha $$ para um DAT) e eu disse logo que eu lhe oferecia o vinyl, pois acho mt importante este trade entre djs, é quase um acto perdido hoje em dia ''Dar um Vinyl'' e a resposta deste foi “Os pratos só servem para uma coisa… pôr os minidiscs em cima, como imaginam fiquei perplexo , peguei no meu vinyl e saí correndo lolol, pouco tempo mais tarde comecei a tocar nas festas de trance com vinyl (admito que estava desiludido com tudo nesta altura e estava quase para desistir pois o choque era muito estranho). Uma das primeiras festas que toquei foi para a hoje conhecida ''cristal matrix'' na altura ''Triad Productions'' ofereceram me um slot na party sem receber cachet, eu queria era mostrar o que sabia, por isso aceitei, e acabou por correr muito bem e fazer umas quantas pessoas falar o resto é mais historia, sinto que quando cheguei a terra senti essas diferenças todas ainda hoje acho que nunca tivemos melhor “club culture” dos que passaram os anos das festas em “warehouses” em Portugal com djs desconhecidos, ainda tenho um mix do vibre na radio energia que me faz acreditar que já tivemos grande vibe antes das massificações de grandes organizadoras.


O que mudou em ti como DJ, depois dos Stereo Addiction?


Na altura tinha uma vida bastante activa, tocava por um cachet mínimo, mas tinha muitas datas sempre a mostrar trabalho e trabalhava numa loja no amo-te chiado chamada ''Grooveline'' onde vendia vinyl, acabava o trabalho ia para o bairro tocar nos clubes pequenos, na altura tinha um projecto de trance progressivo com o meu colega Gustavo ''Zoom'', decidimos pôr à prova o nosso conhecimento num estilo que nunca passou em Portugal, Progressive House, e começamos a tocar mais esse estilo em festas privadas no prior velho ''O Barracão'' onde tínhamos cada vez mais “crowd” a aparecer e foi aí onde conhecemos a Mariana ( a nossa agente hoje em dia), nesta altura já estava a tocar muito com o Gustavo e decidimos criar o projecto Stereo Addiction, e a Mariana mais tarde torna-se nossa agente. O meu percurso como dj tem sido uma evolução, sempre em constante aprendizagem, começar a tocar em eventos realmente grandes, viajar e tocar em cidades diferentes apenas mudou o meu conhecimento da indústria.



Vinyl ou digital? Qual preferes?


Não há nada como entrar numa loja que se admire, passar lá umas boas 5 horas e sair com 12 discos, voltar para casa, mixar pela primeira vez e sentir aquela presença analógica… mas raramente isso se aplica aos clubes que têm o material sempre negligenciado, por isso a solução mais segura é sempre o digital mas sempre que posso prefiro o vinyl.


Em Portugal qual ou quais os eventos em que participaste que mais te marcaram?


After´s do Europa, Infusion @ Op Art, Sudoeste (todos os anos que participamos), Creamfields, LUX, e muitos outros. Tento sempre que a próxima festa que toco seja o mais especial possível.






Os Stereo Addiction comemoram este ano 10 anos. Qual é a sensação?


Muitas memórias, muito trabalho, Continuo a sentir-me uma criança que curte é dançar nas festas, mas a realidade é que já passaram muitos anos como Stereo Addiction e como dj, mas sinto confiança em como ainda tenho muitas ideias para tirar da cartola e evoluir com os tempos, sinto que este ano vai bombar!



Fazendo uma retrospectiva da música de dança em Portugal, achas que a evolução tem sido positiva?


Sim tem, quando cheguei havia poucas vertentes, poucas festas, pouca união, hoje gosto de pensar que contribuí para ajudar a divulgar novas gerações, hoje temos muito mais estilos na “street” pena que não tenhamos “crowd” para tudo, ainda muitas casas se rendem ao comercial. A nível de produção também acho que estamos no bom caminho, tanto em estilos e criatividade como na projecção a nível mundial.


Tens projectos futuros que queiras partilhar com o Cooltura Electrónica?


Sim, tenho o meu alter ego ''Nuck Choris'' que vai começar a estar mais tempo no estúdio, produzir uma onda mais “nu disc”, tenho as minhas residências a correr bem, os “after” no Europa WE LOVE DIRTY BASSLINES e no Faktory o DISCO INFERNO para apresentar novidades numa onda diferente vou começar o meu programa de Live Streaming - ''Back 2 Basics'' com convidados frescos, e algumas produções minhas também como john-e e nos Stereo Addiction onde irei ter projectos a colaborar com amigos e colegas como: jackspot, kaesar, pedro zoy, himan.

Muita gente opina sobre os eventos que cá se realizam, sobre o apoio que é dado pelas produtoras de eventos aos artistas portugueses, e também sobre a constante repetição de nomes internacionais que ditam as tendências que os “ Portugueses ” seguem. Muitas vezes ouve-se que a música electrónica tornou-se “moda”, e o espírito não é o mesmo como de á uns anos atrás. Qual a tua opinião sobre estes temas que geram uma certa controvérsia à volta desta cultura que tem crescido ano após ano?

pois, a culpa é da MTV lol tou a brincar. Como disse antes o meu choque cultural aconteceu já em 2000, pois logo nessa altura senti uma grande diferença. Essa “club culture” acho que existiu no começo dos 90´s em Portugal, quando as doves ainda voavam… não havia criaturas bizarras e era a verdadeira rave, esses anos estão para trás, nós tentamos passar essa mensagem cada vez que tocamos, porque esse é o nosso espírito e foi de onde viemos, também a falta de apoio dos media aos movimentos mais undergrounds faz com que a cena não cresça, as casas depois começam a repetir os nomes porque vêem que resultou a primeira ou segunda vez, é normal esse crescimento. O truque é inovar e criar alternativas.

A nível nacional tens algum artista preferido?

Tenho vários cada um à sua maneira, o Vibe pela ''escolinha'' que só ele sabe de 88 a 92. Sou fã de vários amigos meus como as minhas queridas Heartbreakerz, o Gustavo, Kaesar e na produção, o Jackspot, Pedro Zoy, rucka & jonsky, sou fã também de projectos de Dub Step/Drum, esta turma toda que anda ai a partir a “street” como os Drop Top os Zombies, Zeder e Kalimodjo e claro o meu mano Diego Miranda pela sabedoria na industria em Portugal.